Lembro de algumas coisas que fizeram com que eu me interessasse pelo assunto "profissionais do sexo" e, diferente da visão glamourizada que Pretty woman alguns filmes e O doce veneno do escorpião livros costumam passar, não consigo ver brilho e beleza na profissão mais antiga do mundo, pelo contrário vejo muita dor e sofrimento.
Vou apenas citar apenas 3 fatos que me fizeram trabalhar e estudar a questão prostituição:
1. Quando eu era pequena vi um porteiro de uma igreja bloquear a entrada de uma delas. Como eu era criança, não podia falar né?! Criança lá tem opinião que dirá respeitada? Mas ficou em minha memória o choro dela e a vontade que tive de conversar com ela para que parasse de chorar.
2. Eu estudava em uma faculdade longe da minha cidade, então todos os dias ia e voltava de lá em um ônibus alugado pelos alunos.
Passávamos por um ponto de prostituição na volta para casa e, para se impor como homens, os idiotas de minha faculdade gritavam e jogavam coisas nas prostitutas e travestis todos os dias, de segunda a sexta. Até o dia que elas esperaram o ônibus com pedras, foi o dia mais maravilhoso da minha vida!
Elas reagiram as agressões gratuitas!
3. Jesus e Maria Madalena.
Pode ser que em algum momento eu conte algumas histórias sobre esse assunto, meus estudos e trabalhos, mas a necessidade hoje é de falar que essa realidade vai além das micro-saias que vemos em nossas avenidas.
O Livro "O ano em que trafiquei mulheres" , me foi emprestado por um amigo e foi uma das leituras mais interessantes dos últimos tempos. Do jornalista investigativo e escritor que tem por pseudônimo Antônio Salas, retrata sem pudor a vida de mulheres que são vendidas como escravas sexuais em pleno século XXI.
A narrativa, que nada tem de ficção, relata a vida de mulheres envolvidas num esquema sujo e martirizante de redes de sexo pago. Meninas de 10 anos em diante que são vendidas por suas famílias com a expectativa de serem "babás" na Europa, ficam presas a um ciclo de dívidas e violência sem fim. São espancadas, torturadas, passam fome, frio, são massacradas física e psicologicamente (não sei qual o pior) e até mortas nas ruas e "boates" da Europa, sendo a Espanha campeã de receptação dessas mulheres e crianças.
A verdade incômoda é que todos os anos mulheres nigerianas, brasileiras, argentinas, colombianas são aliciadas neste tráfico e engrossam as estatísticas (submensuradas) de mulheres que são traficadas, vendidas, ainda em nossa geração. (Cerca de 500.000 mulheres e meninas são vítimas todos os anos de tráfico humano - dados da Anistia Internacional).
No livro ele se infiltra e se passa por dono de bordéis em Valência, mostra que estão envolvidos desde os viciados em sexo até os ricos empresários. Do mais baixo proxeneta até famílias de renome na sociedade europeia, de mulheres famosas, atrizes até crianças que nunca escolheriam estar ali.
Ele testemunha e é vítima do quão sórdida, cruel e desmedida pode ser a sede do ser humano por riqueza e poder independente do que será feito do outro ser humano.
Antonio Salas mostra a realidade das prostitutas de uma forma chocante, esclarecedora, real e comovente.
Deixo aqui um relato, que está quase nas últimas páginas do livro para que da próxima vez que você pensar em dizer que os velhos jargões: Vida fácil, vadia, elas escolheram estar aí... ou xingar na rua e jogar pedras, água, urina, cuspir ou simplesmente virar o rosto, você lembre que ninguém acorda, de repente um dia e, plim! Escolhe passar pelas seguintes consequências:
1. Quando eu era pequena vi um porteiro de uma igreja bloquear a entrada de uma delas. Como eu era criança, não podia falar né?! Criança lá tem opinião que dirá respeitada? Mas ficou em minha memória o choro dela e a vontade que tive de conversar com ela para que parasse de chorar.
2. Eu estudava em uma faculdade longe da minha cidade, então todos os dias ia e voltava de lá em um ônibus alugado pelos alunos.
Passávamos por um ponto de prostituição na volta para casa e, para se impor como homens, os idiotas de minha faculdade gritavam e jogavam coisas nas prostitutas e travestis todos os dias, de segunda a sexta. Até o dia que elas esperaram o ônibus com pedras, foi o dia mais maravilhoso da minha vida!
Elas reagiram as agressões gratuitas!
3. Jesus e Maria Madalena.
Pode ser que em algum momento eu conte algumas histórias sobre esse assunto, meus estudos e trabalhos, mas a necessidade hoje é de falar que essa realidade vai além das micro-saias que vemos em nossas avenidas.
O Livro "O ano em que trafiquei mulheres" , me foi emprestado por um amigo e foi uma das leituras mais interessantes dos últimos tempos. Do jornalista investigativo e escritor que tem por pseudônimo Antônio Salas, retrata sem pudor a vida de mulheres que são vendidas como escravas sexuais em pleno século XXI.

A verdade incômoda é que todos os anos mulheres nigerianas, brasileiras, argentinas, colombianas são aliciadas neste tráfico e engrossam as estatísticas (submensuradas) de mulheres que são traficadas, vendidas, ainda em nossa geração. (Cerca de 500.000 mulheres e meninas são vítimas todos os anos de tráfico humano - dados da Anistia Internacional).
No livro ele se infiltra e se passa por dono de bordéis em Valência, mostra que estão envolvidos desde os viciados em sexo até os ricos empresários. Do mais baixo proxeneta até famílias de renome na sociedade europeia, de mulheres famosas, atrizes até crianças que nunca escolheriam estar ali.
Ele testemunha e é vítima do quão sórdida, cruel e desmedida pode ser a sede do ser humano por riqueza e poder independente do que será feito do outro ser humano.
Antonio Salas mostra a realidade das prostitutas de uma forma chocante, esclarecedora, real e comovente.
Deixo aqui um relato, que está quase nas últimas páginas do livro para que da próxima vez que você pensar em dizer que os velhos jargões: Vida fácil, vadia, elas escolheram estar aí... ou xingar na rua e jogar pedras, água, urina, cuspir ou simplesmente virar o rosto, você lembre que ninguém acorda, de repente um dia e, plim! Escolhe passar pelas seguintes consequências:
"A Revista Nacional de Criminologia publicou um estudo feito no Egito que aplicava o teste das "dez manchas de tinta"- Teste de Rorschach - a um grupo de prostitutas. Criminologistas e Psiquiatras concluíram que:
1. Essas mulheres eram incapazes de representar seres humanos inteiros. Quando conseguiam, a imagem ficava bem mais próxima de uma pessoa morta do que viva. Quando a imagem parecia a de uma pessoa viva, apresentava um corpo disforme ou dedicando-se a atividades estranhas, análogas as de fantasmas, demônios ou ferozes animais selvagens;
2. Os movimentos mecânicos predominavam sobre os espontâneos;
3. As reações e as respostas das mulheres referiam-se amiúde a um violento desgarramento do corpo ou de seus órgãos;
4. Predominavam reações que expressam sentimentos agressivos e violentos contra o próprio sujeito ou contra objetos externos.
Em outras palavras, as prostitutas pesquisadas desenvolveram uma visão aberrante e distorcida do ser humano, e, portanto, de si mesmas."
Sua imaginação sobre a prostituição é uma coisa, a realidade é outra e bem mais pesada e torpe.
O tráfico de pessoas está mais próximo de nossas vidas que imaginamos.
Assimile a realidade e não apenas isso, faça sua parte, se interesse pelo assunto, por pessoas, pela humanidade, se importe, oriente quem você puder sobre, denuncie há números específicos para isto: 180 para denunciar exploração sexual e violência contra a mulher e o disque 100 para fazer a denuncia de maus tratos, abuso e exploração de crianças e adolescentes.
Se envolva em programas de apoio, desenvolva campanhas de denuncia contra esses crimes que são contra você também, só pelo fato de ser humano.
Recomendo a leitura do "O Ano em que trafiquei mulheres". Chorei ao final dele, é forte, real e ao mesmo tempo extremamente humanizador e conscientizador de uma realidade fria e insipida.
Mais alguns dados relevantes sobre o tráfico de pessoas*:
De acordo com dados da ONU e de várias ONG’s internacionais, o tráfico de pessoas representa hoje no mundo inteiro um grave problema, pois esse tipo de crime organizado transnacional está fortemente atrelado à exploração sexual, ao comércio de órgãos, à adoção ilegal, à pornografia infantil, às formas ilegais de imigração com vistas à exploração do trabalho em condições análogas à escravidão, ao contrabando de mercadorias, ao contrabando de armas e ao tráfico de drogas.
Segundo Vicente Faleiro:
A prostituição pode ser vista tanto como falha moral, como opção de trabalho, ou escravidão. O moralismo culpa e reprime. A opção é valorizada por várias/vários profissionais do sexo, mas muitos relatos afirmam a falta de opção diante da pobreza, do abandono, da violência familiar e social, da falta de escolarização e de oportunidades. É um fenômeno diversificado e relacionado à mercantilização do corpo, seja feito por conta própria, seja em rede comercial, pois o corpo é usado e exposto como uma mercadoria, seja nas ruas, nas paradas de ônibus ou mesmo em vitrines.
A rede da prostituição é, na maioria das vezes, invisível, podendo envolver o crime organizado, com operadores de aparente vida comum. As/os profissionais do sexo, portanto, podem ser explorados/das por vários agentes ao mesmo tempo, como cafetões ou rufiões que o Dicionário Houaiss chama de “indivíduo que vive à custa de mulher pública, a quem simula proteger; gigolô, proxeneta, intermediário entre amantes; alcoviteiro”. O estigma aplicado a “mulher pública” não existe para “homem público”, numa clara discriminação do gênero feminino.
Para se enfrentar essa questão também existem formas diferentes de política. A abolicionista propõe erradicar totalmente essa prestação de serviços, inclusive pela repressão. A regulacionista estabelece normas trabalhistas, educativas e sanitárias para profissionais do sexo e medidas educativas junto aos clientes. A posição do laissez-faire supõe que o mercado atue livremente. No Brasil, o exercício da prostituição de adultos é permitido, mas são criminalizados seu favorecimento, o tráfico, a casa de prostituição, o rufianismo, ou seja, transformar o corpo em objeto de lucro de outrem.
No entanto, quando penso em regulamentação da prostituição, falo de um trabalho que seja voluntariamente exercido. E, mesmo voluntariamente, carrega uma carga de cunho pejorativo tremenda, um estigma que imagino que não seja fácil de superar. No caso da prostituição forçada, de estupros repetidos, de ameaças de morte, isso não é uma profissão. É escravidão.
De acordo com a Polícia Federal, as quadrilhas que comandam o tráfico de pessoas só perdem em lucratividade para as de tráfico de drogas e de armas. A ONU estima que a máfia de pessoas movimenta por ano mais de US$ 30 bilhões. Cerca de 10% desse dinheiro passa pelo Brasil. A principal dificuldade do poder público para enfrentar essas quadrilhas é a falta de um órgão dedicado exclusivamente ao tema. Outro problema, até mais grave, é o alto grau de corrupção que envolve essa modalidade de crime. “O tráfico é diretamente dependente da corrupção. No caso do Brasil, esbarramos também na falta de informações oficiais. Um país sem controle e sem números sobre um crime é um país sem ordem”, diz Sacco.
*Referência: Tráfico de Pessoas - Revista IstoÉ, 10/2011
E nunca mais você dirá que a vida delas é fácil.
Sua imaginação sobre a prostituição é uma coisa, a realidade é outra e bem mais pesada e torpe.
O tráfico de pessoas está mais próximo de nossas vidas que imaginamos.
Assimile a realidade e não apenas isso, faça sua parte, se interesse pelo assunto, por pessoas, pela humanidade, se importe, oriente quem você puder sobre, denuncie há números específicos para isto: 180 para denunciar exploração sexual e violência contra a mulher e o disque 100 para fazer a denuncia de maus tratos, abuso e exploração de crianças e adolescentes.
Se envolva em programas de apoio, desenvolva campanhas de denuncia contra esses crimes que são contra você também, só pelo fato de ser humano.
Recomendo a leitura do "O Ano em que trafiquei mulheres". Chorei ao final dele, é forte, real e ao mesmo tempo extremamente humanizador e conscientizador de uma realidade fria e insipida.
Mais alguns dados relevantes sobre o tráfico de pessoas*:
De acordo com dados da ONU e de várias ONG’s internacionais, o tráfico de pessoas representa hoje no mundo inteiro um grave problema, pois esse tipo de crime organizado transnacional está fortemente atrelado à exploração sexual, ao comércio de órgãos, à adoção ilegal, à pornografia infantil, às formas ilegais de imigração com vistas à exploração do trabalho em condições análogas à escravidão, ao contrabando de mercadorias, ao contrabando de armas e ao tráfico de drogas.
Segundo Vicente Faleiro:
A prostituição pode ser vista tanto como falha moral, como opção de trabalho, ou escravidão. O moralismo culpa e reprime. A opção é valorizada por várias/vários profissionais do sexo, mas muitos relatos afirmam a falta de opção diante da pobreza, do abandono, da violência familiar e social, da falta de escolarização e de oportunidades. É um fenômeno diversificado e relacionado à mercantilização do corpo, seja feito por conta própria, seja em rede comercial, pois o corpo é usado e exposto como uma mercadoria, seja nas ruas, nas paradas de ônibus ou mesmo em vitrines.
A rede da prostituição é, na maioria das vezes, invisível, podendo envolver o crime organizado, com operadores de aparente vida comum. As/os profissionais do sexo, portanto, podem ser explorados/das por vários agentes ao mesmo tempo, como cafetões ou rufiões que o Dicionário Houaiss chama de “indivíduo que vive à custa de mulher pública, a quem simula proteger; gigolô, proxeneta, intermediário entre amantes; alcoviteiro”. O estigma aplicado a “mulher pública” não existe para “homem público”, numa clara discriminação do gênero feminino.
Para se enfrentar essa questão também existem formas diferentes de política. A abolicionista propõe erradicar totalmente essa prestação de serviços, inclusive pela repressão. A regulacionista estabelece normas trabalhistas, educativas e sanitárias para profissionais do sexo e medidas educativas junto aos clientes. A posição do laissez-faire supõe que o mercado atue livremente. No Brasil, o exercício da prostituição de adultos é permitido, mas são criminalizados seu favorecimento, o tráfico, a casa de prostituição, o rufianismo, ou seja, transformar o corpo em objeto de lucro de outrem.
No entanto, quando penso em regulamentação da prostituição, falo de um trabalho que seja voluntariamente exercido. E, mesmo voluntariamente, carrega uma carga de cunho pejorativo tremenda, um estigma que imagino que não seja fácil de superar. No caso da prostituição forçada, de estupros repetidos, de ameaças de morte, isso não é uma profissão. É escravidão.

*Referência: Tráfico de Pessoas - Revista IstoÉ, 10/2011
E nunca mais você dirá que a vida delas é fácil.
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