quarta-feira, 27 de agosto de 2014

terça-feira, 26 de agosto de 2014

A crise econômica obrigou a brasileira Elsa (nome fictício), de 28 anos, a retomar uma atividade que a fez viver "o inferno nesta terra": a prostituição.

De Madrid para a BBC Brasil

A brasileira M.S.M.A. (foto: Anelise Infante/BBC Brasil)
Elsa voltou à prostituição após o salão de beleza onde trabalhava fechar
A crise econômica obrigou a brasileira Elsa (nome fictício), de 28 anos, a retomar uma atividade que a fez viver "o inferno nesta terra": a prostituição.
Após trocar Goiânia por Madri, livrar-se de uma quadrilha de cafetões e conseguir trabalho de manicure, a falta de dinheiro a levou a um beco com poucas saídas e ela acabou voltando a se prostituir.
“Não foi escolha, foi sobrevivência”, desabafa.
Imigrante ilegal na Europa, ela chegou à Espanha em 2005 com a ajuda de uma quadrilha sabendo que iria exercer a prostituição.
O que não sabia era que estaria em regime de semi-escravidão, vigiada 24 horas ao dia e com ameaças de morte.
Fuga
Em 2007, ela fugiu com a ajuda de um cliente e recebeu ajuda psicológica na ONG Apramp (Associação para Prevenção, Reinserção e Atenção à Mulher Prostituída), que a ajudou a encontrar um trabalho como manicure e cabeleireira em um salão.
Mas em fevereiro o sonho da reabilitação acabou. “O salão fechou. Eu, sem documentação, não tinha muita chance de trabalhar. Fiz o que pude, mas sem licença de trabalho, acabei voltando à prostituição”, disse à BBC Brasil.
Elsa se emociona ao contar por que tomou uma decisão que ela define como “um passo de caranguejo”.
“Não vou mentir e fingir que virei santa, porque quando aceitei vir para cá, já sabia o que tinha pela frente. Vivi o inferno nesta terra”, diz.
“No começo, fiquei 15 dias sem trabalhar (para a quadrilha) porque só chorava e pedia para voltar para o Brasil. Nenhum cliente queria ir comigo por isso. Aí ameaçaram me matar e matar a minha família. Foi tão horrível que depois daquilo perdi o medo, a dignidade, perdi tudo”, relata.
Depois de largar a prostituição, sobre a qual a família em Goiânia nunca ficou sabendo, Elsa achava que tinha fechado um capítulo em sua vida, até ser surpreendida pela crise.
Sonho
Para ela, os 950 euros (cerca de R$ 2.500) mensais por doze horas de trabalho, seis dias por semana, num salão modesto da capital espanhola, valiam mais a pena do que o salário mínimo que recebia no Brasil.
“Todo imigrante vem com o sonho de ter uma casa, um carro, ajudar os pais... Voltar sem ter conseguido nada é duro também para a família que ficou lá esperando muitas coisas”, justificou.
Elsa, que pertence a uma família de evangélicos, e não esteve no Brasil desde que imigrou, sonha com o retorno quando puder ter recursos financeiros para comprar um imóvel e ajudar o pai a ter seu próprio negócio.
Prostituindo-se numa casa em um bairro nobre de Madri com outras onze mulheres imigrantes, ela consegue em torno de 700 euros (aproximadamente R$ 1.850) por semana.
Poderia ganhar mais trabalhando por conta própria nas ruas, mas tem medo das batidas policiais ordenadas pelo governo municipal, que considera a prostituição um “ataque à dignidade da mulher”, como descreveu à BBC Brasil a diretora geral de Igualdade da Prefeitura de Madri, Asunción Miúra.
Deportação
A lei espanhola permite a prática da prostituição, mas criminaliza a exploração de mulheres e a estadia de imigrantes ilegais. Por isso, se fosse pega na rua, a deportação de Elsa seria imediata.
“Uma política repressiva, absurda e ridícula”, disse à BBC Brasil Cristina Garaizábal, diretora da ONG Hetaira, que defende os direitos das prostitutas e afirma que apenas 5% das mulheres que praticam a prostituição na Espanha estão controladas por máfias.
Para a ONG, mulheres como Elsa estariam em melhores condições se pudessem ter garantias trabalhistas.
“Ela agora poderia estar recebendo seguro desemprego em lugar de ter de voltar à prostituição se não quisesse”, afirmou Garaizábal.
Para a brasileira, o sonho da carteira assinada é uma utopia. A maior preocupação é ficar marcada para sempre por ter escolhido uma forma de ganhar a vida.
“O pior nem é o sexo. O pior agora é a sensação de fracasso, sabe? Eu sei que vou sair disso, mas essa mancha nunca vai desaparecer da minha vida. Espero ganhar o suficiente para voltar para o Brasil, começar uma vida nova, mas sei que isso não vai dar para apagar”, observa.

Fonte: http://www.bbc.co.uk/portuguese/

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Prostituição na Alemanha é legal

09 maio 2014

por
Veronica Munk
Área legalizada de prostituição em Berlim, Alemanha Área legalizada de prostituição em Berlim, Alemanha. Photo: Filipe Fortes. Creative Commons LizenzvertragEsta imagem está sobre licença de Creative Commons License.
Foi durante o governo de coalisão de verdes e socialistas, que em 2002 a Alemanha aprovou a LProst (Lei de Prostituição), uma legislação que legalizou o trabalho sexual. Antes de 2002, esse trabalho não era ilegal nem proibido: as pessoas que o exerciam tinham que pagar impostos, mas ao mesmo tempo, a atividade era considerada imoral e sem valor jurídico numa disputa entre clientes e profissionais do sexo.
Durante a Copa do Mundo de 2006 na Alemanha uma manchete recorrente na imprensa foi que 40 mil prostitutas invadiriam as cidades alemãs vindas do Leste Europeu. A manchete alarmista, que mostrou-se falaciosa, fez ressurgir discursos discriminatórios e preconceituosos contra trabalhadoras do sexo, e impôs o debate sobre prostitutição e migração. Veronica Munk, ativista e pesquisadora do tema, afirma que "para o Movimento de Prostitutas e Simpatizantes, a LProst de 2002 foi o primeiro passo para o reconhecimento dos direitos civis e trabalhistas de trabalhadores do sexo na Alemanha".
No Brasil, com a realização da Copa ressurgiu o debate sobre a regulamentação do trabalho dos profissionais do sexo. O exemplo alemão nos dá algumas pistas para entendermos os avanços e desafios em relação ao tema.
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Apesar do seu reconhecimento como profissão desde 2002, trabalhadores do sexo na Alemanha ainda estão sujeitos à discriminação, moralismos, incertezas e mal entendidos. Mesmo assim, o reconhecimento formal significou um avanço em termos de direitos humanos. Um avanço que só existe em quatro outros paises da União Européia. Em 20 deles não há legislação própria, e na Lituania e Romenia a prostituição é proibida.     
A Alemanha tem 82 milhões de habitantes. Estima-se que entre 100 mil e 300 mil mulheres, homens e transsexuais exerçam o trabalho sexual. Pelo fato de não existirem estudos científicos, esta estimativa se refere a pessoas que exercem este trabalho de forma integral ou parcial, num período de um ano.
Estima-se também, que cerca de 70% são estrangeiros, sendo que a maioria neste grupo é de cidadãos da própria UE, sobretudo búlgaros, romenos, poloneses, húngaros, tchecos e lituanos. A expansão da UE em 2004 e 2007, que abriu as fronteiras e o mercado de trabalho, estimulou o movimento migratório e trouxe mudanças visíveis, também na prostituição.
A Lei de Prostituição de 2002
A prostituição na Alemanha foi legalmente regulamentada a partir de janeiro de 2002.  O trabalho sexual, antes de 2002, não era ilegal nem proibido: as pessoas que o exerciam tinham que pagar impostos, mas ao mesmo tempo, a atividade destas pessoas era considerada imoral e portanto, sua palavra não tinha valor jurídico.
O objetivo da Lei de Prostituição (LProst) de 2002 foi o de abolir a imoralidade da atividade, criar regras jurídicas para o seu exercício e assim melhorar as condições de trabalho daqueles que o exerciam. A LProst é composta de três pontos somente:
1. Trabalhadores do sexo têm o amparo da lei para cobrar o pagamento por serviços prestados e não quitados;
2. Podem escolher entre trabalhar como empregados ou autônomos. Em ambos os casos com obrigações e direitos a benefícios sociais como de qualquer outra atividade laboral;
3. Foi abolida a lei que considerava como ‘promoção da prostituição’ o fato de bordéis oferecerem boas condições de trabalho ou ter, por exemplo, preservativos à disposição dos clientes.
Para o Movimento de Prostitutas e Simpatizantes, a LProst de 2002 foi o primeiro passo para o reconhecimento dos direitos de trabalhadores do sexo na Alemanha. Um passo extremamente importante e significativo, mas somente o primeiro de vários outros passos, que se incumbiriam de garantir a descriminalização total do trabalho sexual. Estes outros passos, entretanto, até hoje não foram dados.   
Os avanços
A regulamentação da prostituição foi o passo que permitiu que o trabalho sexual saísse do limbo. A Lei é um instrumento concreto na defesa dos direitos das pessoas que exercem ou queiram exercer esta atividade e, ao mesmo tempo, é uma base legal contra a discriminacação.
Outro fator positivo da LProst é o fato dela ser uma regulamentação ‘voluntária’, isto é, ela não obriga uma pessoa a declarar oficialmente que é prostituta ou michê. Isto é vantajoso para aqueles que receiam a estigmatização ainda existente.  
E o fato da prostituição ter sido legalizada, fez com que cidadãos da União Européia possam trabalhar como empregados ou autônomos sem maiores obstáculos burocráticos.
As pendências
De acordo com a avaliação oficial sobre o impacto da LProst, feita em 2005 peloInstituto de Estudos de Ciências Sociais da Mulher (Freiburg), a Lei teve, entretanto, um impacto limitado, por duas razões:
n as legislações periféricas, como as que regem tributação, autonomia ou vínculo empregatício, imigração, uso de bares e restaurantes, contravenção e outros crimes, não foram modificadas ou adaptadas de acordo com a LProst;
n A LProst, apesar de federal, não é aplicada de forma igual em todo o país. Na Alemanha, um país federativo, onde cada um dos 16 Estados pode aplicar ou interpretar leis de formas diferentes, faz com que autoridades tenham diferentes visões de um mesmo assunto e consequentemente, diferentes formas de lidar com ele.
Esta situação dificulta, traz incertezas e insegurancas tanto para aqueles que exercem a prostituição, como para as autoridades responsáveis pela aplicação da lei. Apesar da LProst, da legalidade e do reconhecimento, as contradições existem:   
Criminalização: o trabalho sexual ainda é criminalizado, principalmente o de rua,  que é proibido em determinadas áreas de algumas cidades como Dortmund, Hamburgo e Munique, e ultimamente tem vindo acompanhado da penalização de clientes. Cada vez mais cidades adotam estas medidas. 
Estigmatização: pessoas que exercem o trabalho sexual ainda são discriminadas. Geralmente, prostitutas não são convidadas, como seria de se esperar,  a participar de discussões ou decisões que dizem respeito a elas.
Impostos: a cobrança de impostos varia de acordo com o Estado ou até a cidade. Existem cidades onde existe um pagamento antecipado diário, que pode ir de 15 a 30 euros por dia (de 45 a 90 R$), recolhido pelo dono ou administrador do bordel. Há, entretanto, outras cidades onde isso não existe.         
Lei de Imigracão: uma pessoa de fora da União Européia não pode requisitar um visto de trabalho e residência com o intuito de trabalhar na prostituição. Isso pode propiciar dependência e exploração de migrantes por terceiros.
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Falam as putas...
Associação Profissional de Serviços Eróticos e Sexuais (Berufsverband erotische und sexuelle Dienstleistungen, www.sexwork-deutschland.de), criada em Frankfurt, em outubro de 2013, é da seguinte opinião:
Punição de clientes
Rejeitamos todo e qualquer tipo de punição de clientes de prostitutas, por isso levar a atividade à clandestinidade, o que comprovadamente aumenta  a  violência contra prostitutas, a dependencia de terceiros e a insegurança.
Autonomia
Queremos  que trabalhadores do sexo sejam tratados como qualquer outro trabalhador autônomo, tanto em relação a impostos como a direitos trabalhistas. Prostituição é uma atividade legal e não necessita de impostos especiais.
Registro compulsório
Rejeitamos o registro compulsório por isto forçar uma identificação nem sempre desejada.
Regras para estabelecimentos
Rejeitamos a regulamentação de estabelecimentos como forma de controle sobre profissionais do sexo. Queremos profissionalismo e condições de trabalho adequadas.
Abolição das áreas proibidas
Queremos soluções pragmáticas, onde os interesses dos trabalhadores do sexo, dos moradores e dos comerciantes sejam igualmente respeitados e considerados. Cada trabalhor do sexo tem o direito de escolher a sua forma de trabalhar: se na rua ou dentro de casas.
Consultoria
Queremos a inclusão de trabalhadores do sexo como consultores em discussões, decisões políticas, trabalhistas e legislativas sobre  prostituição.
Exames médicos
Rejeitamos a re-introdução do exame médico compulsório para prostitutas, abolido em 2001. Queremos a extensão da rede dos serviços médicos ​​gratuitos e anônimos do Ministério da Saúde.
Trabalho sexual e tráfico
Rejeitamos a mescla destes dois temas, quando sob a argumentação de que todos aqueles que trabalham na prostituição são vítimas de tráfico, exploração e violencia, e que só se pode combater o tráfico ao se abolir a prostituição. Esta argumentação é falsa, irreal e manipulativa. Prostituição é trabalho, enquanto tráfico, exploração e violencia são crimes.
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A oposição
É claro que também existem na Alemanha vozes contra o reconhecimento da prostituição como trabalho. Vozes estas que afirmam não existirem mulheres que escolham trabalhar na prostituição por livre e espontânea vontade; que todas que o fazem são coagidas e/ou vítimas de tráfico humano e outras violências, que o trabalho sexual é uma afronta à diginidade da mulher e portanto não deve existir.
Este grupo usa números que, comprovadamente, não têm nenhuma base científica, e baseiam suas discussões em argumentos puramente moralistas. A solução proposta para acabar com a prostituição é a criminalização dos clientes como forma de coibir a demanda por serviços sexuais.   
Eles intensificaram suas demandas no final de 2013, quando do lançamento de um livro que defende a abolição da prostituição. Isto trouxe uma onda de discussões e mostrou que ainda existem muitos clichês na sociedade, mesmo depois da legalização.
A resposta das prostitutas
Apesar de existirem algumas organisações locais, não havia na Alemanha uma organisação nacional de prostitutas. A criação de uma estava no entanto latente há algum tempo, e em meados de 2013 um grupo de 40 trabalhadores do sexo fundou a Associação Profissional de Serviços Eróticos e Sexuais
Ela veio num momento muito propício, quando as vozes por mais repressão contra a prostituição começaram a ficar mais fortes. Este grupo tem sido extremamente ativo na mídia e em palestras pelo país afora, ao explicar a realidade de sua perspectiva e assim combater a vertente moralista.
Não que não exista coerção, tráfico e violência, mas a maioria dos trabalhadores do sexo o faz por decisão própria. Só através do reconhecimento de seu trabalho, estas pessoas poderão se defender contra a violência e exigir seus direitos humanos.
A repercussão da lei alemã no Brasil
A Rede Brasileira de Prostitutas (www.redeprostitutas.org.br) tem cerca de 30 organisações filiadas. Há mais de 30 anos elas lutam pelo reconhecimento de seus direitos, mas até agora sem maiores resultados.
Atualmente tramita na Câmara dos Deputados do Brasil um projeto do deputado Jean Wyllys, do PSol, o projeto Gabriela Leite, que regulamenta a atividade dos profissionais do sexo.     
Essa não é a primeira tentativa de regularizar a situação das prostitutas brasileiras. Em 2003, o então deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), baseando-se na lei alemã de 2002, tentou tirar a proposta do papel, mas o projeto foi arquivado pela Mesa Diretora da Câmara. No ano seguinte, o hoje ex-deputado petista Eduardo Valverde (RO) também apresentou proposta semelhante, mas a ideia teve o mesmo destino.
Em novembro do ano passado, a Comissão de Direitos Humanos recebeu o Projeto n° 4.211/2012, do deputado Jean Wyllys.  Ele pretende enfrentar a forte resistência contra a proposta, mas reconhece que a trincheira conservadora, especialmente dos parlamentares religiosos, é um empecilho expressivo. (http://jeanwyllys.com.br/wp/lei-da-prostituicao-divide-camara)
A Copa de 2006 na Alemanha
A Copa de Futebol no Brasil está perto e prostituição é sempre tema quando se trata de grandes eventos públicos.
Na Alemanha, um ano antes do início da Copa do Mundo, começaram a circular informações sobre a vinda de 40 mil mulheres, todas forçadas a trabalhar na prostituição durante o evento. A mídia explorou a idéia de ‘Futebol = Homens = Sexo’ somado à fórmula ‘Prostituição = Coerção = Tráfico’. Armou-se um circo histérico, propício para ações que justificassem repressão e discriminação contra migrantes e prostitutas.
Duas ativistas - uma prostituta e uma socióloga - criaram então a campanhaFairPlay (www.freiersein.de), para aproveitar um evento essencialmente masculino e, através da ironia, mostrar que prostitutas devem ser respeitadas, que elas têm direitos e que sexo seguro é um must.  
A campanha foi realizada nas doze cidades sedes de jogos. As ações eram feitas antes dos jogos, nas cercanias dos estádios ou dos ‘public viewing’. O que chamava a atenção eram os preservativos gigantes, muito coloridos, enquanto eram distribuidos cartões postais com as ‘10 Regras de Ouro para Clientes de Prostitutas’ e preservativos.
Como esperado, a horda feminina não compareceu, e as mulheres reclamavam dos negócios.
“Apesar de haver mais homens nas ruas, eles não querem nada. Eles gastaram seu dinheiro na viagem para a Alemanha e nas entradas para os jogos. O que sobrou é para cerveja...” (Uma prostituta de Hamburgo)
Todos os relatórios da polícia alemã depois da Copa confirmaram o que disseram as ONGs desde o início: não houve aumento do número de prostitutas nas cidades sedes de jogos, o movimento não foi diferente de quando há algum evento especial na cidade, e não houve nenhum caso especial de tráfico de mulheres.
Para organizações de prostitutas e ativistas na Alemanha, o positivo desta Copa foi que, desde 2002, quando da legalização da prostituição, foi a primeira vez que houve novamente uma mobilização nacional em torno do tema. 
Por isso a experiência da Copa foi tão importante: fez com que houvesse na Alemanha um fortalecimento das NGOs e ativistas em torno da luta pelos direitos de pessoas que se prostituem. Isso foi a base da qual se servem hoje para enfrentar de forma mais coesa as dificuldades políticas e sociais. 
Fonte: http://br.boell.org/pt-br/

terça-feira, 19 de agosto de 2014

A Dura Vida de um Vida Fácil

A Dura Vida de um Vida Fácil

Do sonho de infância que não se realizou, ao pesadelo de realizar os sonhos dos outros. Mulheres que são mães, algumas casadas, outras viúvas, que a vida escolheu para serem as vendedoras da "ilusão do prazer". Trabalhadoras do sexo contam como se iniciaram no mundo da prostituição, falam sobre preconceito, drogas e se gostariam que suas filhas se tornassem prostitutas. Por trás de um sorriso de uma trabalhadora do sexo há sempre um choro contido.

Comentário do Diretor: ÓTIMO FILME. FAZ REVER NOSSOS CONCEITOS E PRECONCEITOS. HUMANIZA A FIGURA DA PROSTITUTA E NOS FAZ ENXERGAR QUE HÁ VIDA DENTRO DESSE MUNDO CHAMADO PROSTITUIÇÃO.https://www.youtube.com/watch?v=6z_hAQqy5JI

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Vida Facil(?)

Lembro de algumas coisas que fizeram com que eu me interessasse pelo assunto "profissionais do sexo" e, diferente da visão glamourizada que Pretty woman alguns filmes e O doce veneno do escorpião livros costumam passar, não consigo ver brilho e beleza na profissão mais antiga do mundo, pelo contrário vejo muita dor e sofrimento.
Vou apenas citar apenas 3 fatos que me fizeram trabalhar e estudar a questão prostituição:

1. Quando eu era pequena vi um porteiro de uma igreja bloquear a entrada de uma delas. Como eu era criança, não podia falar né?! Criança lá tem opinião que dirá respeitada? Mas ficou em minha memória o choro dela e a vontade que tive de conversar com ela para que parasse de chorar.

2. Eu estudava em uma faculdade longe da minha cidade, então todos os dias ia e voltava de lá em um ônibus alugado pelos alunos.
Passávamos por um ponto de prostituição na volta para casa e, para se impor como homens, os idiotas de minha faculdade gritavam e jogavam coisas nas prostitutas e travestis todos os dias, de segunda a sexta. Até o dia que elas esperaram o ônibus com pedras, foi o dia mais maravilhoso da minha vida!
Elas reagiram as agressões gratuitas!

3. Jesus e Maria Madalena.

Pode ser que em algum momento eu conte algumas histórias sobre esse assunto, meus estudos e trabalhos, mas a necessidade hoje é de falar que essa realidade vai além das micro-saias que vemos em nossas avenidas.
O Livro "O ano em que trafiquei mulheres" , me foi emprestado por um amigo e foi uma das leituras mais interessantes dos últimos tempos. Do jornalista investigativo e escritor que tem por pseudônimo Antônio Salas, retrata sem pudor a vida de mulheres que são vendidas como escravas sexuais em pleno século XXI.
A narrativa, que nada tem de ficção, relata a vida de mulheres envolvidas num esquema sujo e martirizante de redes de sexo pago. Meninas de 10 anos em diante que são vendidas por suas famílias com a expectativa de serem "babás" na Europa, ficam presas a um ciclo de dívidas e violência sem fim. São espancadas, torturadas, passam fome, frio, são massacradas física e psicologicamente (não sei qual o pior) e até mortas nas ruas e "boates" da Europa, sendo a Espanha  campeã de receptação dessas mulheres e crianças.
A verdade incômoda é que todos os anos mulheres nigerianas, brasileiras, argentinas, colombianas são aliciadas neste tráfico e engrossam as estatísticas (submensuradas) de mulheres que são traficadas, vendidas, ainda em nossa geração. (Cerca de 500.000 mulheres e meninas são vítimas todos os anos de tráfico humano - dados da Anistia Internacional). 
No livro ele se infiltra e se passa por dono de bordéis em Valência, mostra que estão envolvidos desde os viciados em sexo até os ricos empresários. Do mais baixo proxeneta até famílias de renome na sociedade europeia, de mulheres famosas, atrizes até crianças que nunca escolheriam estar ali.
Ele testemunha e é vítima do quão sórdida, cruel e desmedida pode ser a sede do ser humano por riqueza e poder independente do que será feito do outro ser humano.
Antonio Salas mostra a realidade das prostitutas de uma forma chocante, esclarecedora, real e comovente.
Deixo aqui um relato, que está quase nas últimas páginas do livro para que da próxima vez que você pensar em dizer que os velhos jargões: Vida fácil, vadia, elas escolheram estar aí... ou xingar na rua e jogar pedras, água, urina, cuspir ou simplesmente virar o rosto, você lembre que  ninguém acorda, de repente um dia e, plim! Escolhe passar pelas seguintes consequências:


"A Revista Nacional de Criminologia publicou um estudo feito no Egito que aplicava o teste das "dez manchas de tinta"- Teste de Rorschach - a um grupo de prostitutas. Criminologistas e Psiquiatras concluíram que:

1. Essas mulheres eram incapazes de representar seres humanos inteiros. Quando conseguiam, a imagem ficava bem mais próxima de uma pessoa morta do que viva. Quando a imagem parecia a de uma pessoa viva, apresentava um corpo disforme ou dedicando-se a atividades estranhas, análogas as de fantasmas, demônios ou ferozes animais selvagens;
2. Os movimentos mecânicos predominavam sobre os espontâneos;
3. As reações e as respostas das mulheres referiam-se amiúde a um violento desgarramento do corpo ou de seus órgãos;
4. Predominavam reações que expressam sentimentos agressivos e violentos contra o próprio sujeito ou contra objetos externos.

Em outras palavras, as prostitutas pesquisadas desenvolveram uma visão aberrante e distorcida do ser humano, e, portanto, de si mesmas."

Sua imaginação sobre a prostituição é uma coisa, a realidade é outra e bem mais pesada e torpe.
O tráfico de pessoas está mais próximo de nossas vidas que imaginamos.
Assimile a realidade e não apenas isso, faça sua parte, se interesse pelo assunto, por pessoas, pela humanidade, se importe, oriente quem você puder sobre, denuncie há números específicos para isto: 180 para denunciar exploração sexual e violência contra a mulher e o disque 100 para fazer a denuncia  de maus tratos, abuso e exploração de crianças e adolescentes.
Se envolva em programas de apoio, desenvolva campanhas de denuncia contra esses crimes que são contra você também, só pelo fato de ser humano.
Recomendo a leitura do "O Ano em que trafiquei mulheres". Chorei ao final dele, é forte, real e ao mesmo tempo extremamente humanizador e conscientizador de uma realidade fria e insipida.



Mais alguns dados relevantes sobre o tráfico de pessoas*:


De acordo com dados da ONU e de várias ONG’s internacionais, o tráfico de pessoas representa hoje no mundo inteiro um grave problema, pois esse tipo de crime organizado transnacional está fortemente atrelado à exploração sexual, ao comércio de órgãos, à adoção ilegal, à pornografia infantil, às formas ilegais de imigração com vistas à exploração do trabalho em condições análogas à escravidão, ao contrabando de mercadorias, ao contrabando de armas e ao tráfico de drogas.


Segundo Vicente Faleiro:


A prostituição pode ser vista tanto como falha moral, como opção de trabalho, ou escravidão. O moralismo culpa e reprime. A opção é valorizada por várias/vários profissionais do sexo, mas muitos relatos afirmam a falta de opção diante da pobreza, do abandono, da violência familiar e social, da falta de escolarização e de oportunidades. É um fenômeno diversificado e relacionado à mercantilização do corpo, seja feito por conta própria, seja em rede comercial, pois o corpo é usado e exposto como uma mercadoria, seja nas ruas, nas paradas de ônibus ou mesmo em vitrines.


A rede da prostituição é, na maioria das vezes, invisível, podendo envolver o crime organizado, com operadores de aparente vida comum. As/os profissionais do sexo, portanto, podem ser explorados/das por vários agentes ao mesmo tempo, como cafetões ou rufiões que o Dicionário Houaiss chama de “indivíduo que vive à custa de mulher pública, a quem simula proteger; gigolô, proxeneta, intermediário entre amantes; alcoviteiro”. O estigma aplicado a “mulher pública” não existe para “homem público”, numa clara discriminação do gênero feminino.


Para se enfrentar essa questão também existem formas diferentes de política. A abolicionista propõe erradicar totalmente essa prestação de serviços, inclusive pela repressão. A regulacionista estabelece normas trabalhistas, educativas e sanitárias para profissionais do sexo e medidas educativas junto aos clientes. A posição do laissez-faire supõe que o mercado atue livremente. No Brasil, o exercício da prostituição de adultos é permitido, mas são criminalizados seu favorecimento, o tráfico, a casa de prostituição, o rufianismo, ou seja, transformar o corpo em objeto de lucro de outrem.


No entanto, quando penso em regulamentação da prostituição, falo de um trabalho que seja voluntariamente exercido. E, mesmo voluntariamente, carrega uma carga de cunho pejorativo tremenda, um estigma que imagino que não seja fácil de superar. No caso da prostituição forçada, de estupros repetidos, de ameaças de morte, isso não é uma profissão. É escravidão.


De acordo com a Polícia Federal, as quadrilhas que comandam o tráfico de pessoas só perdem em lucratividade para as de tráfico de drogas e de armas. A ONU estima que a máfia de pessoas movimenta por ano mais de US$ 30 bilhões. Cerca de 10% desse dinheiro passa pelo Brasil. A principal dificuldade do poder público para enfrentar essas quadrilhas é a falta de um órgão dedicado exclusivamente ao tema. Outro problema, até mais grave, é o alto grau de corrupção que envolve essa modalidade de crime. “O tráfico é diretamente dependente da corrupção. No caso do Brasil, esbarramos também na falta de informações oficiais. Um país sem controle e sem números sobre um crime é um país sem ordem”, diz Sacco. 


*Referência: Tráfico de Pessoas - Revista IstoÉ, 10/2011


E nunca mais você dirá que a vida delas é fácil.


Vida de imigrante



sábado, 20 de março de 2010

Vida no exterior nao é fácil, a gente sofre muito.... A vida aqui è uma luta diária, você mata um leão por dia para ir se adaptando. Primeiro a lingua, depois a comida, a cultura, as pessoas e até mesmo a coca cola que é mundial, é diferente. Aqui ela quase não tem gas.

Tudo é diferente e você tem que começar, ou melhor, recomeçar do zero. Tirar todos os seus documentos, voltar pra auto-escola, recomeçar a estudar tudo o que você nao sabe do país: história, políticas, personagens importantes, leis, deveres e direitos. E para parece que você nunca vai aprender tudo que esta à sua volta.

A maioria das pessoas pensam que viver no exterior è glamuroso, mas na verdade não é não. Financeiramente não me falta nada, tenho tudo o que necessito materialmente para viver, disso eu não posso reclamar. Mas sinto falta da minha indepêndencia emocional, ás vezes me sinto isolada no mundo, sinto falta de ter minhas coisas, meu trabalho, meus amigos... E como se a gente perdesse a nossa identidade, porque no final eu não me sinto nem italiana e nem brasileira... me sinto uma expatriada! Mas como o tempo é o melhor remédio pra tudo, devagar a gente vai se adaptando e um dia a gente acaba abraçando essa terra e a sua gente como se fosse nossa!

É claro que não posso dizer que sou infeliz, não seria verdade, mas ainda me falta algumas coisas para eu declarar que sou feliz com a boca cheia. Nao é fácil ser feliz aqui... Não basta só o amor e uma cabana pra ser feliz. 

Se eu for estudar a teoria das necessidades de Maslow vai me faltar os dois útimos degraus da piramide: necessidade de autorealização e necessidade de auto estima ( quando digo auto estima, digo aquela relacionada a status e reconhecimento) - Isso eu ainda nao conquistei. Os outros degraus que compõem a piramide: necessidades fisiologicas, segurança e afeto, ja esta no bolso. 
Eu gostaria de ouvir mais depoimentos de imigrantes e saber se somente eu penso e me sinto assim. Gostaria de saber das experiências e da vivência de vocês.
Extraido do http://www.noticiasdabota.com/


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