segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Visto para os EUA

Nos últimos anos, a demanda de vistos de brasileiros para os Estados Unidos, quer a turismo, quer a negócios, disparou: foram 800.000 solicitações apenas em 2011. E não foi só a demanda que cresceu: entre 2001 e 2010, o volume de vistos concedidos para brasileiros aumentou mais de 144%, passando de 223.729 em 2001 para 546.866 em 2010. Dessa forma, os EUA se viram obrigados a reforçar o número de funcionários de seus consulados e acelerar os trâmites no país. O país também colhe benefícios: segundo o Departamento de Comércio dos EUA, os brasileiros gastam em média 5.000 dólares em cada viagem ao país. Os viajantes brasileiros estão entre as três nacionalidades que mais deixam dinheiro ao visitarem território americano, ao lado de chineses e indianos. Entenda a seguir quais são hoje os trâmites de concessão de visto para os EUA – e porque os brasileiros são tão bem-vindos ao país.
Segundo afirmou o presidente Barack Obama, esta é uma de injetar mais recursos na economia do país, que ainda se recupera da recessão. "A cada ano, dezenas de milhões de turistas de todo o mundo vêm visitar os Estados Unidos. E quanto mais visitantes vierem, mais americanos voltarão a trabalhar", afirmou. "Queremos mais gente vindo facilmente aos Estados Unidos".
Em janeiro deste ano, os EUA adotaram novas regras para simplificar e agilizar o processo de obtenção de vistos para turistas. Já em fevereiro, o Departamento de Estado americano afirmou ter reduzido 'drasticamente' os tempos de espera para a obtenção de visto em suas representações diplomáticas no Brasil. Quem solicita um visto americano no Rio de Janeiro ou em Brasília espera agora duas semanas ou menos para ser entrevistado, segundo o Departamento. Já em São Paulo, o prazo médio teria caído para menos de trinta dias. Mas recomenda-se que o brasileiro procure o consulado com pelo menos três meses de antecedência antes de viajar.

Formulário
O primeiro passo para obter o visto norte-americano é preencher o formulário DS-160, disponível no site https://ceac.state.gov/genniv/ (em inglês). É preciso ficar atento às informações prestadas, já que inconsistências nos dados podem por todo o processo a perder.
Pagamento
Para os vistos do tipo (B1/B2, C1/D, F, M, J, I, TN, TD) a taxa é de 160 dólares. Já os tipos (H, L, O, P, Q, R) custam 190 dólares. Os vistos tipo E-1, E-2 e E-3 têm taxa de 270 dólares e o visto de noivo ou noiva (tipo k), 240 dólares. O pagamento pode ser feito por meio de cartão de crédito pelo site do agendamento, por telefone, em dinheiro em qualquer agência do Citibank ou por boleto bancário. Não há cobrança separada para agendamento ou envio do passaporte.
Agendamento
De posse do número do código de barras do DS-160 e do recibo de pagamento da taxa, o agendamento da entrevista pode ser feito pelo site http://brazil.usvisa-info.com ou pelo telefone http://usvisa-info.com/pt-BR/selfservice/us_service_options. É preciso ter em mãos o número do passaporte. Primeiro, é preciso agendar a data de entrevista no consulado, em seguida a data para coleta de dados (foto e impressões digitais) no centro de atendimento (CASV), que é feita antes da entrevista.
Coleta de dados
Agendamento feito, é preciso ir a um dos Centros de Atendimento ao Solicitante de Visto (CASV) para coleta dos dados biométricos (impressões digitais e foto). O solicitante deve levar o passaporte e a página de confirmação do formulário DS-160. Pessoas acima dos 66 anos ou com até 15 anos estão isentas desse processo. Basta levar uma foto 5×7 e a página da confirmação do formulário DS-160 no centro de atendimento. Confira aqui os endereços dos CASV http://usvisa-info.com/pt-BR/selfservice/us_asc_information.
Entrevista
O último passo é a entrevista no consulado. Na ocasião, é preciso levar passaporte e a página de confirmação com o código de barras do formulário DS-160. Menores de 16 anos ou maiores de 65 anos são dispensados da entrevista, mas podem ser convocados se a embaixada ou consulado julgar necessário.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

SOLIDÃO!

A solidão amiga

A noite chegou, o trabalho acabou, é hora de voltar para casa. Lar, doce lar? Mas a casa está escura, a televisão apagada e tudo é silêncio. Ninguém para abrir a porta, ninguém à espera. Você está só. Vem a tristeza da solidão... O que mais você deseja é não estar em solidão...

Mas deixa que eu lhe diga: sua tristeza não vem da solidão. Vem das fantasias que surgem na solidão. Lembro-me de um jovem que amava a solidão: ficar sozinho, ler, ouvir, música... Assim, aos sábados, ele se preparava para uma noite de solidão feliz. Mas bastava que ele se assentasse para que as fantasias surgissem. Cenas. De um lado, amigos em festas felizes, em meio ao falatório, os risos, a cervejinha. Aí a cena se alterava: ele, sozinho naquela sala. Com certeza ninguém estava se lembrando dele. Naquela festa feliz, quem se lembraria dele? E aí a tristeza entrava e ele não mais podia curtir a sua amiga solidão. O remédio era sair, encontrar-se com a turma para encontrar a alegria da festa. Vestia-se, saía, ia para a festa... Mas na festa ele percebia que festas reais não são iguais às festas imaginadas. Era um desencontro, uma impossibilidade de compartilhar as coisas da sua solidão... A noite estava perdida.

Faço-lhe uma sugestão: leia o livro A chama de uma vela, de Bachelard. É um dos livros mais solitários e mais bonitos que jamais li. A chama de uma vela, por oposição às luzes das lâmpadas elétricas, é sempre solitária. A chama de uma vela cria, ao seu redor, um círculo de claridade mansa que se perde nas sombras. Bachelard medita diante da chama solitária de uma vela. Ao seu redor, as sombras e o silêncio. Nenhum falatório bobo ou riso fácil para perturbar a verdade da sua alma. Lendo o livro solitário de Bachelard eu encontrei comunhão. Sempre encontro comunhão quando o leio. As grandes comunhões não acontecem em meio aos risos da festa. Elas acontecem, paradoxalmente, na ausência do outro. Quem ama sabe disso. É precisamente na ausência que a proximidade é maior. Bachelard, ausente: eu o abracei agradecido por ele assim me entender tão bem. Como ele observa, "parece que há em nós cantos sombrios que toleram apenas uma luz bruxoleante. Um coração sensível gosta de valores frágeis". A vela solitária de Bachelard iluminou meus cantos sombrios, fez-me ver os objetos que se escondem quando há mais gente na cena. E ele faz uma pergunta que julgo fundamental e que proponho a você, como motivo de meditação: "Como se comporta a Sua Solidão?" Minha solidão? Há uma solidão que é minha, diferente das solidões dos outros? A solidão se comporta? Se a minha solidão se comporta, ela não é apenas uma realidade bruta e morta. Ela tem vida.

Entre as muitas coisas profundas que Sartre disse, essa é a que mais amo: "Não importa o que fizeram com você. O que importa é o que você faz com aquilo que fizeram com você." Pare. Leia de novo. E pense. Você lamenta essa maldade que a vida está fazendo com você, a solidão. Se Sartre está certo, essa maldade pode ser o lugar onde você vai plantar o seu jardim.

Como é que a sua solidão se comporta? Ou, talvez, dando um giro na pergunta: Como você se comporta com a sua solidão? O que é que você está fazendo com a sua solidão? Quando você a lamenta, você está dizendo que gostaria de se livrar dela, que ela é um sofrimento, uma doença, uma inimiga... Aprenda isso: as coisas são os nomes que lhe damos. Se chamo minha solidão de inimiga, ela será minha inimiga. Mas será possível chamá-la de amiga? Drummond acha que sim: "Por muito tempo achei que a ausência é falta./ E lastimava, ignorante, a falta./ Hoje não a lastimo./ Não há falta na ausência. A ausência é um estar em mim./ E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,/ que rio e danço e invento exclamações alegres,/ porque a ausência, essa ausência assimilada,/ ninguém a rouba mais de mim.!"

Nietzsche também tinha a solidão como sua companheira. Sozinho, doente, tinha enxaquecas terríveis que duravam três dias e o deixavam cego. Ele tirava suas alegrias de longas caminhadas pelas montanhas, da música e de uns poucos livros que ele amava. Eis aí três companheiras maravilhosas! Vejo, frequentemente, pessoas que caminham por razões da saúde. Incapazes de caminhar sozinhas, vão aos pares, aos bandos. E vão falando, falando, sem ver o mundo maravilhoso que as cerca. Falam porque não suportariam caminhar sozinhas. E, por isso mesmo, perdem a maior alegria das caminhadas, que é a alegria de estar em comunhão com a natureza. Elas não vêem as árvores, nem as flores, nem as nuvens e nem sentem o vento. Que troca infeliz! Trocam as vozes do silêncio pelo falatório vulgar. Se estivessem a sós com a natureza, em silêncio, sua solidão tornaria possível que elas ouvissem o que a natureza tem a dizer. O estar juntos não quer dizer comunhão. O estar juntos, frequentemente, é uma forma terrível de solidão, um artifício para evitar o contato conosco mesmos. Sartre chegou ao ponto de dizer que "o inferno é o outro." Sobre isso, quem sabe, conversaremos outro dia... Mas, voltando a Nietzsche, eis o que ele escreveu sobre a sua solidão:

"Ó solidão! Solidão, meu lar!... Tua voz - ela me fala com ternura e felicidade!

Não discutimos, não queixamos e muitas vezes caminhamos juntos através de portas abertas.

Pois onde quer que estás, ali as coisas são abertas e luminosas. E até mesmo as horas caminham com pés saltitantes.

Ali as palavras e os tempos/poemas de todo o ser se abrem diante de mim. Ali todo ser deseja transformar-se em palavra, e toda mudança pede para aprender de mim a falar."

E o Vinícius? Você se lembra do seu poema O operário em construção? Vivia o operário em meio a muita gente, trabalhando, falando. E enquanto ele trabalhava e falava ele nada via, nada compreendia. Mas aconteceu que, "certo dia, à mesa, ao cortar o pão, o operário foi tomado de uma súbita emoção ao constatar assombrado que tudo naquela casa - garrafa, prato, facão - era ele que os fazia, ele, um humilde operário, um operário em construção (...) Ah! Homens de pensamento, não sabereis nunca o quando aquele humilde operário soube naquele momento! Naquela casa vazia que ele mesmo levantara, um mundo novo nascia de que nem sequer suspeitava. O operário emocionado olhou sua própria mão, sua rude mão de operário, e olhando bem para ela teve um segundo a impressão de que não havia no mundo coisa que fosse mais bela. Foi dentro da compreensão desse instante solitário que, tal sua construção, cresceu também o operário. (...) E o operário adquiriu uma nova dimensão: a dimensão da poesia."

Rainer Maria Rilke, um dos poetas mais solitários e densos que conheço, disse o seguinte: "As obras de arte são de uma solidão infinita." É na solidão que elas são geradas. Foi na casa vazia, num momento solitário, que o operário viu o mundo pela primeira vez e se transformou em poeta.

E me lembro também de Cecília Meireles, tão lindamente descrita por Drummond:

"...Não me parecia criatura inquestionavelmente real; e por mais que aferisse os traços positivos de sua presença entre nós, marcada por gestos de cortesia e sociabilidade, restava-me a impressão de que ela não estava onde nós a víamos... Distância, exílio e viagem transpareciam no seu sorriso benevolente? Por onde erraria a verdadeira Cecília..."

Sim, lá estava ela delicadamente entre os outros, participando de um jogo de relações gregárias que a delicadeza a obrigava a jogar. Mas a verdadeira Cecília estava longe, muito longe, num lugar onde ela estava irremediavelmente sozinha.

O primeiro filósofo que li, o dinamarquês Soeren Kiekeggard, um solitário que me faz companhia até hoje, observou que o início da infelicidade humana se encontra na comparação. Experimentei isso em minha própria carne. Foi quando eu, menino caipira de uma cidadezinha do interior de Minas, me mudei para o Rio de Janeiro, que conheci a infelicidade. Comparei-me com eles: cariocas, espertos, bem falantes, ricos. Eu diferente, sotaque ridículo, gaguejando de vergonha, pobre: entre eles eu não passava de um patinho feio que os outros se compraziam em bicar. Nunca fui convidado a ir à casa de qualquer um deles. Nunca convidei nenhum deles a ir à minha casa. Eu não me atreveria. Conheci, então, a solidão. A solidão de ser diferente. E sofri muito. E nem sequer me atrevi a compartilhar com meus pais esse meu sofrimento. Seria inútil. Eles não compreenderiam. E mesmo que compreendessem, eles nada podiam fazer. Assim, tive de sofrer a minha solidão duas vezes sozinho. Mas foi nela que se formou aquele que sou hoje. As caminhadas pelo deserto me fizeram forte. Aprendi a cuidar de mim mesmo. E aprendi a buscar as coisas que, para mim, solitário, faziam sentido. Como, por exemplo, a música clássica, a beleza que torna alegre a minha solidão...

A sua infelicidade com a solidão: não se deriva ela, em parte, das comparações? Você compara a cena de você, só, na casa vazia, com a cena (fantasiada ) dos outros, em celebrações cheias de risos... Essa comparação é destrutiva porque nasce da inveja. Sofra a dor real da solidão porque a solidão dói. Dói uma dor da qual pode nascer a beleza. Mas não sofra a dor da comparação. Ela não é verdadeira.

Mas essa conversa não acabou: vou falar depois sobre os companheiros que fazem minha solidão feliz.
Rubem Alves