quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Imigrantes nos Estados Unidos vivem ambiente hostil

Os Estados Unidos, ao longo de sua história, foi muitíssimo generoso com os imigrantes. Claro, houve momentos em que essa nação rejeitou e discriminou estrangeiros da Alemanha, China, Japão, Irlanda e América Latina, entre muitos outros. Mas, no fim das contas, sempre se emendou e voltou a abrir suas portas aos imigrantes. Esse é o lado certo da história.
"Nossa política migratória deve ser generosa; deve ser justa; deve ser flexível", escrevera o futuro presidente John F. Kennedy em 1958, em seu livro "Uma nação de imigrantes", publicado em 1964. "Com uma política assim, podemos olhar o mundo e nosso próprio passado com as mãos e a consciência limpas".
Esse ideal de Kennedy é muito diferente do que estamos vivendo atualmente. Nunca, desde que cheguei aos Estados Unidos em 1983, vi e senti um ambiente tão hostil contra os imigrantes. Uns os atacam e outros os deportam.
Como evidência disso, basta ver o Alabama e o Arizona, onde os imigrantes ilegais são perseguidos e presos, muitas vezes por mínimas infrações de trânsito. Nenhum dos candidatos republicanos à presidência apoia a legalização de 11 milhões de imigrantes ilegais. Alguns, inclusive, queriam enviá-los de volta aos seus países de origem (embora nunca expliquem como). O presidente Barack Obama não cumpriu sua promessa de apresentar uma proposta migratória ao Congresso durante seu primeiro ano de governo e, além disso, deportou mais de 1 milhão de imigrantes ilegais desde que tomou posse, separando milhares de famílias. Dos deportados, 45% não tinham nenhum tipo de antecedente criminal.
Por que isso está acontecendo?
Certamente, um dos fatores é a crise econômica e o fato de que muitos americanos culpam injustamente os imigrantes ilegais pela má situação do país. Alguns políticos se deram conta de que podem obter poder ao explorar a difundida suspeita de que imigrantes tiram empregos dos cidadãos e esvaziam os cofres do governo. Atacar os imigrantes ilegais, que não têm ninguém representando seus interesses, pode dar-lhes o impulso necessário para vencer as eleições. Além disso, não há latinos o suficiente nos Estados Unidos dispostos a votar em candidatos que realmente entendam a comunidade hispânica e sejam capazes de defendê-la de ataques injustos.
Mas, no final, estou convencido, os Estados Unidos farão o que é certo. Ronald Reagan o fez. Há 25 anos assinou a lei de Reforma e Controle da Imigração que anistiou 2,7 milhões de imigrantes. Muito me surpreendem os republicanos que dizem defender o legado de Reagan, mas que não se atrevem a votar no congresso por uma lei que tire milhões da obscuridade.
Aquele que escuta certas estações de rádio e de televisão, ou os discursos inflamados de muitos políticos de extrema direita, pode ter a falsa impressão de que quase todos os norte-americanos rejeitam uma reforma migratória. Mas não é assim.
A maioria dos americanos tem uma atitude generosa para com os imigrantes ilegais. Uma pesquisa recente realizada pela Univision e pela Latino Decisions revelou que 58% dos norte-americanos é a favor da ideia de tornar cidadãos dos Estados Unidos os imigrantes ilegais que não tenham cometido crimes, que paguem impostos e que falem inglês. (Entre os latinos o apoio a essa ideia é de 67%)
Atacar os imigrantes ilegais já está tendo suas consequências. Juízes bloquearam as partes mais prejudiciais das leis anti-imigração do Alabama e do Arizona. De fato, o autor da Lei SB-1070 do Arizona, o líder do senado no Estado Russell Pearce, acaba de perder seu posto em uma eleição revocatória. Ou seja, os eleitores, cansados de seus ataques a estrangeiros, o deportaram para sua casa assim como ele fez com tantos imigrantes.
Se os republicanos quiserem ganhar a Casa Branca, terão de moderar seus ataques aos imigrantes ilegais e propor algum tipo de plano para que estes possam ficar legalmente no país. É isso que quer a maioria dos norte-americanos, segundo nossa pesquisa. Se não o fizerem, será politicamente impossível para os republicanos conseguir mais de um terço dos votos latinos e, consequentemente, perderão mais uma vez a presidência.
Em outras palavras, trata-se de estar do lado correto da história. E isso significa estar do lado dos imigrantes. Kennedy esteve do lado correto, e Reagan também.
Quem se atreve a segui-los?
*Jorge Ramos, jornalista ganhador do Emmy, é diretor de notícias da Univision Network. Ramos, nascido no México, é autor de nove best-sellers, sendo o mais recente “A Country for All: An Immigrant Manifesto”.
Tradutor: Lana Lim
http://noticias.uol.com.br/blogs-e-colunas/coluna/jorge-ramos/2011/11/16/imigrantes-nos-estados-unidos-vivem-ambiente-hostil.htm

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