quinta-feira, 8 de maio de 2014

Porque é tão difícil voltar a viver no Brasil?

Porque é tão difícil voltar a viver no Brasil?

O Brasil com Z é um blog onde vários brasileiros se juntaram para escrever sobre suas experiências de vida no exterior.

Uma das integrantes, a Glenda, mora em Sevilha, na Espanha. E fez um texto excelente sobre essa eterna dúvida que a gente tem sobre "voltar ou não voltar" pro Brasil.

"Depois de duas semanas lendo sobre o porquê dos meus companheiros de Brasil com Z não quererem mais voltar a viver no Brasil, decidi escrever meu texto. Em 2009 já havíamos feito uma ronda sobre “voltar ou não voltar” entre os colaboradores do blog… os tempos eram outros, o pessoal também, mas quem quiser conferir pode clicar aqui. Inclusive eu dei minha opinião sobre a volta e decidir escrever de novo não porque tenha mudado de ideia, mas sim porque ampliei um pouco meu pensamento".
Não precisamos nem citar a quantidade de problemas, principalmente sociais, ambientais e econômicos que existem no Brasil, primeiro, porque nem vale a pena repetir, e outra, porque todo mundo está careca de saber que no nosso país falta segurança, falta educação e saúde pública, falta tolerância, falta tanta coisa e sobra outras mais, como desigualdades, exclusões, injustiças.

"Não sei quando volto ao Brasil pelo simples fato de que não sei se quero voltar ao Brasil. Gosto muito da vida que levo atualmente. A principal lição de vida que aprendi nestes 6 anos de Sevilha é que não é pobre o que menos tem, mas é rico o que menos necessita. Aqui aprendi que não preciso de luxos para viver feliz, que com pouco dinheiro no bolso posso me divertir, ter uma vida cultural relativamente agitada e ainda viajar de vez em quando. Aprendi que a felicidade não se encontra em shopping e que autoestima não está diretamente relacionada com chapinha e unhas bem feitas. E não que no Brasil eu tivesse um padrão de vida alto ou fosse uma patricinha de carteirinha, mas depois de viver 6 anos em uma casa com móveis alugados, nossa percepção de vida muda muito".
Futilidades à parte, aqui aprendi que se trabalha para viver e não se vive para trabalhar. Isso significa realmente aproveitar a vida. 

Na Holanda existem workaholics, pessoas obsessivas por trabalho, principalmente no meio universitário onde eu vivi. Mas existem as pessoas comuns, como eu e você, que tem um trabalho normal, e mesmo assim conseguem tirar férias na Grécia ou na Tailândia todo verão. Ou então ir para os festivais de música mais loucos da sua vida.

Pode ser tailândia...ou então um Festival Fodástico de música na Polônia. Eu Fui!!!
A escolha da onde ir é toda sua. E isso é não tem preço.
 

Horas extras, 60 horas de trabalho semanais, um final de semana em casa atolado de prazos esgotados? Óbvio que isso acontece, mas não é regra e nem cotidiano. "Conheço funcionários públicos que pedem redução de salário para poder ficar uma hora a mais com os filhos em casa", disse a Glenda.

Vivendo na Holanda, assim como a Glenda na Espanha, eu aprendi que carro é luxo. Carro é pra ser usado naquelas distâncias mesmo longas, tipo viagens de uma cidade pra outra.
Sabe porquê? Transporte público funciona. E a bicicleta é uma alternativa de transporte realmente viável, não apenas um luxo de alguns grupos ousados de pessoas, como no Brasil.

Pedalando na Holanda
Em Sevilla, nossa amiga Glenda pedalava 40 minutos até o trabalho, e olha que "Sevilla não é uma cidade pequena, tem quase 800 mil habitantes fora a zona metropolitana". Eu pedalava 10 minutos na beira da rodovia, de casa até a faculdade em Wageningen. Ops, correção: Na ciclovia que beirava a rodovia!! Com a liberdade de poder ouvir uma musica no fone, porque afinal não tenho que me preocupar em ser atropelada.
Realmente é uma sensação incrível você poder ir e vir sentindo o ventinho no rosto, de quebra fazer exercícios, e ainda economizar dinheiro. Que pode ser usado na próxima viagem de verão.

Em um ambiente internacional, cheio de outros imigrantes, aprende-se a tolerância, e esquece-se da hierarquia social. Vivemos no mesmo prédio do entregador de pizza, da faxineira, e do seu chefe. Sim, seu chefe. Compramos no mesmo mercado, e comemos no mesmo restaurante. Já falei disso em outro post. Confira.
Diferente da maioria das mulheres e meninas brasileiras, ninguém fica se preocupando em sair de casa com uma roupa que não está na moda. Ou então vestir aquela calça azul com glitter e uma blusa cor de rosa choque e estampa de oncinha, simplesmente porque hoje eu acordei com vontade de me vestir assim. Tudo bem, eu exagerei no modelito. Mas dá pra entender o conceito né pessoal? O corpo é seu, a roupa é sua, consequentemente a decisão sobre o que vestir também é sua. Cada um no seu quadrado.

"O normal pode ser qualquer coisa, que cada pessoa é um mundo e que cada um de nós cuida do seu próprio mundo pessoal, sem precisar de aparências ou máscaras. E ao mesmo tempo aprendi que todos devemos cuidar do nosso mundo coletivo, que a força do ser em conjunto é muito importante e que, melhor de tudo, dá resultados.
Então, depois de conviver com tantos outros valores e realidades, muitas vezes penso que não tenho vontade de voltar a morar no Brasil. Quem, depois de aprender a cruzar uma rua pela faixa de segurança sem nem precisar olhar para os lados ou se acostumar a voltar para casa a pé às 3 da manhã, desfrutando do cheiro das flores de laranjeira e do silêncio da madrugada sem precisar olhar para trás, pensa um dia em regressar à sua pátria amada? Quem depois de se habituar a pegar a sua bicicleta e fazer um piquenique no parque público ou de ver uma roda de velhinhos e velhinhas tomando cerveja (sem álcool) felizes e cheirosos no mesmo bar que a garotada de 20 anos...Quem diante de tudo isso pode cogitar a hipótese de não viver mais essas coisas, aparentemente tão banais, mas que no Brasil parece que há muito tempo não existe?"
Claro, nem tudo são flores… Desemprego rola solto nos últimos tempos na Europa. Mas o Brasil oferece bolsas de doutorado, e eu estou realmente com vontade de começar isso o mais rápido possível. Mais cedo ou mais tarde todo mundo tem que pensar sobre a fatídica decisão: volto ou não volto pro Brasil?

Pro pessoal do Brasil com Z, e também pra mim, reina a pergunta: "Qualidade de vida acessível a um bolso pouco cheio ou um bom trabalho (ou um trabalho qualquer)?
Meu consolo é que este mundo é enorme, como já dizia o poeta, «grande demais para nascer e morrer no mesmo lugar». Confesso que não sei se tenho o mesmo ânimo para recomeçar tudo de novo em um país novo, mas quem disse que se eu voltasse ao Brasil eu não teria que recomeçar do zero? E entre recomeçar com qualidade de vida e recomeçar rodeada de violência, desigualdades e injustiças, só fico na dúvida porque neste último caso também estaria rodeada de muito amor, amigos e família (únicos motivos reais que me fazem pensar em voltar a viver no Brasil)".

"Enfim, todo mundo deveria ter a oportunidade de sair da sua bolha, ver o mundo com outros olhos, aprender novos valores e, quem sabe, voltar e conseguir lutar por um lugar melhor. O Brasil é um país com duas caras, lindo e horrível ao mesmo tempo. Sei que sou uma privilegiada por ter oportunidade de estudar o que eu gosto. Adoraria poder voltar e tentar fazer do meu Brasil um lugar melhor para se viver, mas ao mesmo tempo me sinto muito ingênua em pensar que isso poderia ser possível. Ninguém tem a resposta e não sou a única em duvidar do “desenvolvimento” do Brasil". -> Definitivamente ela não é a única.
Quem tem a experiência de viver na Europa com uma condição aceitável, e viaja como eu viajei, uma hora ou outra vai parar de pensar em salários exorbitantes, cargos de presidência, e toda essa coisa de "preciso de muito dinheiro para ser feliz". Já falei disso em outro postleia.
"Embora muita gente siga pensando ao contrário, dinheiro não é e nem nunca foi garantia de felicidade. Felicidade para mim é isso, poder levar a vida sem pausa, mas sem pressa, sem paradeiro se eu assim quiser. Posso não estar com os bolsos cheios, mas percebi que não necessito nada disso para ter uma vida confortável, alegre e divertida".
Tivemos que cruzar o oceano para perceber isso? Sim, tivemos. Não poderia ter aprendido tudo isso no Brasil? Claro que sim, mas quem sabe a comparativa não existiria. 
Como diria John Lennon, "you may say I am a dreamer, but I am not the only one". Muita gente compartilha da opinião de viver fora. Não é porque a gente é mimado e metido a rico. Lendo esse texto dá pra entender que o motivo é de fato mais profundo.
Fatores emocionais como amores e amigos também fazem parte da nossa tomada de decisão. E condição de vida também. Vale a pena aproveitar a oportunidade de viver em um lugar que parece mais justo do que o lugar onde eu nasci. Talvez seja a idade, eles tem séculos a mais do que nós. É, mas eu não conto a minha idade em séculos. 

Não sei sobre vocês, mas eu não tenho tempo a perder.
E aí, qual a sua opinião? 

BY http://virandogringa.blogspot.com.br/

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